O Poder da Beleza na Vida Humana: A Arquitetura como Remédio Contra o Vazio Contemporâneo
- Victória Andrade
- 17 de jun.
- 2 min de leitura
Em um tempo em que o ruído, a pressa e a praticidade tomam o lugar da contemplação, falar sobre beleza pode soar fútil. Mas para o filósofo Roger Scruton, a beleza não é um luxo — é uma necessidade da alma. Em seu livro Beauty: A Very Short Introduction (Oxford University Press, 2011), Scruton afirma com clareza:
“Beleza é uma necessidade espiritual. Ela nos lembra que a vida vale a pena.”

Essa afirmação pode parecer abstrata até considerarmos seu impacto direto no nosso cotidiano. Vivemos hoje em cidades repletas de ruído visual, em edifícios que não convidam à permanência, em espaços que não despertam vínculo, mas sim indiferença. O resultado? Um aumento crescente de distúrbios como ansiedade, apatia e depressão, especialmente nas grandes metrópoles. A ciência já tem apontado para essa correlação: estudos como o publicado na revista Frontiers in Psychology (2019) demonstram que a exposição cotidiana a ambientes visualmente caóticos, feios ou impessoais pode afetar negativamente o humor e os níveis de estresse.
Scruton alertava para isso de forma filosófica, mas profundamente prática. Para ele, a beleza é “um chamado à atenção” – algo que nos tira de nós mesmos, para nos conectar com o mundo.
“A beleza liga o eu ao outro, torna o mundo habitável, e a vida significativa.”(Roger Scruton, Beauty, 2011)
Enquanto sociedade, temos cada vez mais trocado o cultivo da beleza pela eficiência ou pelo entretenimento rápido. No campo da arquitetura, essa troca se revela na perda do ornamento, na repetição de formas estéreis e na funcionalidade sem alma. Edifícios que não despertam afeição, ruas sem encanto, praças que ninguém quer habitar. Como esperar saúde mental em meio à feiura?
Scruton defendia que a beleza genuína — e não a ostentação material — tem um poder moral. Ela exige de nós dedicação, atenção, refinamento do olhar, ou como ele dizia, “um amor pelo mundo que se revela nos detalhes”.
“A experiência da beleza educa o desejo. Ela nos afasta do vulgar e nos convida ao cuidado.”(Roger Scruton, Why Beauty Matters, BBC documentary, 2009)

Arquitetura e o Cuidado com o Invisível
Para nós, arquitetos, essa reflexão é mais do que poética: é uma responsabilidade. Projetar com beleza — verdadeira beleza — é um gesto de resistência contra a cultura do descarte, da pressa, do cinismo visual. Não é sobre luxo, mas sobre intencionalidade estética como forma de cuidado com o outro. É entender que um banco sob uma árvore pode ser mais terapêutico que qualquer discurso motivacional. Que um espaço com proporção, luz e textura pode devolver ao habitante a sensação de pertencimento.
Se queremos cidades mais humanas, precisamos recuperar essa consciência estética. Como diz Scruton:
“A beleza é a promessa de felicidade”(Beauty, 2011) — mas é também o alicerce silencioso da nossa saúde interior.
Conclusão
Em uma sociedade que sofre de depressão não apenas individual, mas estética, talvez a missão mais nobre da arquitetura seja restaurar a capacidade de encantar. Não com exageros, mas com dignidade. Não com modismos, mas com significado.
Porque, no fim, como Scruton nos ensinou, “onde não há beleza, a alma adoece.”

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