Encantar o Lar: A Beleza que Cura o Invisível
- Victória Andrade
- 17 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de jun.
Vivemos dias em que o mundo exterior parece frequentemente caótico, exigente e acelerado. Nesse cenário, o lar deveria ser mais do que um abrigo físico — deveria ser refúgio emocional, fonte de encanto, lugar de restauração. No entanto, muitas vezes ele é negligenciado, reduzido a um ponto de passagem, um lugar funcional. Essa perda de cuidado é mais profunda do que parece — ela é também espiritual e psicológica.
O filósofo conservador Roger Scruton dizia que:
“O lar é onde aprendemos que o mundo pode ser confiável, que a beleza pode ser permanente.”(Roger Scruton, The Aesthetics of Architecture, 1979)
Ao negligenciar o lar — seja por desorganização crônica, excesso de estímulos ou frieza estética — também perdemos o poder transformador que ele possui. Não é exagero dizer que uma casa confusa, desordenada ou emocionalmente indiferente pode contribuir para estados de ansiedade e apatia. Estudos em neuroarquitetura e psicologia ambiental, como os da Dra. Esther Sternberg (Healing Spaces, 2009), apontam que ambientes ordenados e afetivamente cuidadosos reduzem níveis de cortisol e aumentam a sensação de segurança.
A Beleza como Ato de Amor

Para Scruton, a beleza é um compromisso ético. Ele defende que cuidar de um espaço não é vaidade — é um gesto de amor. É por isso que o encantamento do lar não começa com o luxo, mas com a intenção: uma toalha bem dobrada, uma luz suave ao fim do dia, o silêncio que se permite após a refeição. Como dizia C.S. Lewis:
“A ordem é o prazer da razão; mas a desordem é a alegria do demônio.”(C.S. Lewis, The Abolition of Man, 1943)
E Chesterton, com sua sabedoria alegre, lembrava:
“O lar é o microcosmo da eternidade. Um lugar pequeno onde tudo deve ser belo para que o coração seja grande.”
Estratégias para Encantar o Lar
Aqui vão estratégias práticas e simbólicas para cultivar o encanto no lar — não como uma estética de revista, mas como uma forma de vida moral, sensível e repousante:
1. Organização como forma de respeito
A ordem não é controle — é hospitalidade. Um ambiente limpo e coerente comunica cuidado com o outro e consigo mesmo.
Dica prática: Um cesto bonito na entrada para guardar o que chega da rua já muda o ritmo da casa.
2. Lugares de permanência e não apenas de passagem
Crie cantos para estar, contemplar e não só consumir. Um banco com vista, uma poltrona de leitura, uma vela acesa ao fim do dia.
Dica prática: Um arranjo de flores ou um objeto herdado no centro da mesa podem gerar vínculo afetivo com o espaço.
3. A estética da rotina
Como dizia Scruton, “beleza exige disciplina.” Estabelecer rituais — como a mesa posta com cuidado ou o aroma de um chá às 17h — educa os sentidos para a delicadeza.
Dica prática: Escolha um momento do dia para desacelerar em um ambiente preparado com luz, música e silêncio.

4. Acolhimento dos sentidos
Texturas, cores neutras, cheiros naturais. Tudo isso trabalha com o sistema límbico, parte do cérebro responsável por emoções.
Dica prática: Aromas como lavanda ou madeira reduzem o estresse e aumentam a sensação de bem-estar.
5. Memória e pertencimento
O lar é também um lugar onde a identidade é formada. Fotos reveladas, livros sublinhados, cerâmicas com marcas de uso — tudo isso fala de história e continuidade, algo que o mundo líquido moderno tenta apagar.
Dica prática: Escolha objetos com narrativa, e expresse sua história pessoal com simplicidade.

Conclusão: Lar como Lugar Moral
Encantar o lar não é um capricho, é uma afirmação da dignidade da vida cotidiana. É dizer ao corpo cansado: aqui, você pode descansar. É dizer à alma inquieta: aqui, você pode se lembrar do que é eterno.
Nas palavras de Scruton:
“Onde o lar é belo, ele se torna um templo. E onde há templos, há esperança.”
Em tempos de vazio existencial e superficialidade estética, talvez a revolução mais necessária comece dentro de casa — com o cheiro do bolo assando, a cama arrumada, e o cuidado silencioso que só o amor pode justificar.


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